Gracie

- Gostaste do filme amor?

Ruby sorria, já no carro a caminho da sua casa. A pergunta foi dirigida ao namorado de há cinco meses, Gustav, que conduzia.

- Hm hm…
- Que tens fofinho? Não gostaste?
- Gostei, imenso até, – fez um pequeno sorriso. – Só que isto não pode continuar.
- Isto o quê?
- Nós… Eu amo-te, mas há outra pessoa que amo mais…
- É quem eu estou a pensar?
- Acho que sim…
- Então, o que é que ainda estás aqui a fazer? – sorriu-lhe.

Gustav deixou Ruby em casa e, com o apoio da sua agora ex-namorada, guiou até à casa da sua amada. Sabia que era tarde e durante todo o caminho interrogou-se sobre se ela sentiria o mesmo por ele, se já a encontraria a dormir, se ela já teria alguém que lhe preenchesse o coração e de quem não lhe tivesse falado.
Hesitou quando chegou ao prédio dela e viu as luzes da sala, que dava para aquele lado, acesas. Respirou fundo e tocou para o 9º C. À medida que os segundos passavam, Gustav ficava mais nervoso. Ainda mais.
A luz por cima da câmara ligou-se.

- Gustav? – perguntou uma voz ensonada.
- Sim, Gracie. Posso subir?
- Claro, vou abrir.

O trinco da porta soou. O rapaz empurrou-a e as luzes do hall acenderam-se à sua passagem. Subiu os degraus da entrada e carregou no pequeno botão cinzento perto dos elevadores.
18, 17, 16…2, 1, 0. O elevador à sua direita chegou finalmente à cave. Entrou e marcou o andar da melhor amiga.
A viagem demorou menos do que ele queria e, em poucos minutos, já estava à frente da porta de Gracie. Mesmo sem bater, esta abriu-lhe a porta.
Gustav ficou sem reacção. Ela vestia uma camisa de noite de cetim, rosa clara, complementada por um robe um pouco mais escuro, do mesmo tecido.

- Aconteceu alguma coisa? – inquiriu, assustada. – Entra, não fiques aí parado, – puxou-o para o interior do apartamento, fechando a porta.
- Eu e a Ruth acabámos.
- A sério? Porquê? Senta-te… - disse-lhe, apontado para o sofá à fente deles.
- Eu amo outra rapariga… - Gustav falou timidamente, já sentado, olhando as mãos.
- E essa rapariga, também te ama?
- Não sei…amas? – perguntou, olhando no fundo dos olhos dela.

Gracie não respondeu. Ficou em choque com a pergunta de Gustav. Este inspirou profundamente. Tomou a face dela entre as mãos um gesto impensado. Apesar do silêncio, os seus olhos nunca se separaram.
Ela mexeu apenas os lábios quando disse o que ele quis ouvir. E nesse momento foi ela que sentiu a face dele nas suas mãos. Atirou-se para ele, que depressa a abraçou. Olharam-se, seguiram-se e uniram-se num doce beijo. Tímido, mas doce.

O Amor sempre tinha andado por ali, mas andava na sombra da Amizade. Agora? Agora o Amor e a Amizade andam de mãos dadas e a eles juntou-se a Felicidade.